Cinema e bois se misturam no 46° Festival Guarnicê de Cinema

Por Bertrand Lira*

Frame de Fim de Semana no Paraíso Selvagem, de Severino

Um dos mais longevos festivais de cinema do país, o Guarnicê Festival de Cinema, chega à sua 46ª edição (de 9 a 16 deste mês) em São Luís, Maranhão, no mês onde nasceu, em pleno festejos juninos, o que o torna um evento peculiar. Depois de algumas edições fora desse período, o Guarnicê retorna este ano unindo duas manifestações artísticas e culturais: o cinema e o bumba meu boi, esta uma manifestação tipicamente maranhense. O sentido livre da palavra “guarnicê”, que só existe nessas plagas, é reunião de preparação dos bumba meu boi. “Guarnicê” é reunir e se preparar para a festa.

Com o tema “Democracia em Cena”, ao longo destes sete dias, ao final, o 46º Guarnicê, criado em 1977 com o nome de Jornada Maranhense de Super-8, terá colocado nas telas dos Teatro João do Vale, Napoleão Ewerton (Sesc) e Arthur de Azevedo (onde aconteceu sua abertura), 70  filmes de curta e de longa-metragem distribuídos em seis mostras:  Mostra de longas (seis filmes) e curtas nacionais (18), de longas (06) e curtas maranhenses (12), competitivas de videoclipes (23) e de filmes publicitários (07). Além de 11 mostras paralelas e quatro mostras especiais. Uma maratona de filmes que dão conta da diversidade cultural do país e que podem ser conferidos presencialmente ou no site do festival e no aplicativo Guarnicê criado nesta edição, feito inédito num festival de cinema.   

Frame de Big Bang, de Carlos Segundo

O Guarnicê surgiu no âmbito de uma universidade pública (como o Fest Aruanda em João Pessoa) e, desde então, tem sido viabilizado pela Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proec) e da Diretoria de Assuntos Culturais (Dac) da Universidade Federal do Maranhão (Ufma). Reza a lenda que é o mais antigo do Brasil sem interrupção, consolidando-se de forma híbrida desde a pandemia em 2020, quando aconteceu no cine drive-in na Concha Acústica da Ufma. 

Na Mostra Competitiva Nacional de longas-metragens, o filme ‘Praia do silêncio’ (SP, 2022, 72min), um drama experimental de Francisco Garcia; ‘Fim de semana no paraíso selvagem’ (PE, 2022, 116min) uma ficção de Severino (Pedro Séverien que agora assina simplesmente Severino); o doc/ficção ‘Rumo’ (DF, 2022, 74min), de Bruno Victor e Marcus Azevedo; o documentário autobiográfico ‘No vazio do ar’ (PA, 2022, 71min), de Priscilla Brasil; a ficção ‘Katharsys’(RJ, 2022, 94min), dirigido por Roberto Moura; e, encerrando a mostra, o documentário ‘Eu moro em qualquer lugar’ (RJ, 2022, 112min), de Márcio Coutinho. Todos os filmes (longas e curtas) estarão disponíveis online após sua exibição até o dia seguinte.

Guarnicêzinho

Desde os anos 90, tenho participado de algumas edições do Guarnicê, como realizador e júri, na época sob a coordenação do professor Euclides Moreira (Ufma) com uma dedicação comovedora ao festival. O festival Guarnicê sempre esteve alinhado com a defesa da formação, ensino público e gratuito e a democracia, desta vez, num contexto de esperança de “um Brasil de volta”. A palavra “guarnicê”, provavelmente é uma corruptela de guarnecer (preparar, providenciar, suprir, adornar), ações tão necessárias neste momento de retomada do estado pleno de direito depois de uma pandemia e de um desgoverno sem precedentes na nossa história. Vamos “guarnicê”!

Frame de Uma Escola no Marajó

*Bertrand Lira é cineasta e professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFPB/Campus I

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