Melissa Almeida, do Arte como Lar, será uma das críticas da edição 46 do Festival Guarnicê de Cinema. Ela produzirá as resenhas dos seis longas nacionais que compõem a programação. Aqui, ela avalia o filme “Katharsys”, de Roberto Moura, em exibição hoje (14) no Teatro João do Vale (Rua da Estrela, 283) às 19h55. A obra também ficará disponível de modo virtual a partir das 17h30 até às 18h de quinta-feira (15).
O Festival Guarnicê de Cinema
Quarto mais longevo festival de cinema do país, o Guarnicê celebra o audiovisual maranhense e nacional há 46 anos. Promovido pela Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proec) da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), o festival ocorre entre os dias 09 e 16 de junho. O Guarnicê tem patrocínio da Equatorial Energia, Museu da Memória Audiovisual do Maranhão(MAVAM) e do Governo Federal por meio do Banco do Nordeste.
Conta também com o apoio da Assembleia Legislativa do Estado do Maranhão (ALEMA), Fundação Sousândrade, Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), Eduplay, Secretaria de Estado da Educação (SEDUC), Centro Cultural do Ministério Público, TV UFMA, Rádio Universidade, Secretaria Municipal de Educação (SEMED), SESC, Associação Maranhense de Desenvolvedores de Jogos, Bulldog, Gráfica A5, Mar Doce, Teatro João do Vale e Teatro Arthur Azevedo.
Confira a crítica:
“Produzido e filmado em película nos anos 1990 por Roberto Moura, Katharsys foi finalizado digitalmente apenas trinta anos depois em razão da desestruturação da indústria cinematográfica brasileira durante o governo Collor, ficando em meio aos escombros desse período. Um pouco antes da sua produção, as políticas neoliberais adotadas resultaram na extinção da Embrafilme, uma empresa de economia mista estatal distribuidora e produtora de filmes. Além da sua própria narrativa, a existência do filme hoje, o fato de ter sido finalizado e de se reerguer décadas depois em festivais pelo Brasil, a obra representa e traz consigo a democracia em cena, tema da 46a edição do Guarnicê.
O filme é um grande conjunto de cenas carregadas de discursos, poesias e manifestações sem ordem cronológica, demandando do espectador um interesse por narrativas não lineares e experimentais. Breno Moroni interpreta um cineasta que enfrenta dificuldades e cria seus filmes com os recursos e habilidades que possui, ao mesmo tempo que lida com uma realidade política e cinematográfica instável no Brasil, superando obstáculos ao longo do caminho. A obra de Roberto Moura apresenta outros personagens que expressam cansaço e desgaste nas esferas sociais, como os papéis de Sebastião Lemos e ninguém menos que o Grande Otelo, carregando consigo o peso de ser o “último filme” dessa figura tão importante no cinema e na televisão brasileira.
No início, o solitário personagem de Lemos sonhava em retratar a trajetória de um líder, um visionário amado por uns e defensor dos humildes para outros. No entanto, essa essência perpassa essas definições, abraçando todas as contradições do nosso país. Na parte final do filme, Otelo surge como uma entidade de natureza não definida, relacionada à figura de um político populista. Assume vários personagens, desde políticos a trabalhadores e presidiários. Se tratando de um filme um tanto íntimo do diretor, Katharsys não necessariamente possui uma mensagem clara, porém, assisti-lo tomando conhecimento do seu contexto histórico é um ato de celebrar a resistência do audiovisual no Brasil.”